O cabelo e o couro cabeludo acumulam ampla variedade de impurezas, como sujidades do meio ambiente, resíduos de cosméticos, além de oleosidade produzida pelo couro cabeludo e células mortas descamadas. Os cabelos sujos perdem o brilho, tornam-se rebeldes e com odor desagradável. Para reverter esse processo natural, os shampoos agem limpando e tratando os fios e o couro cabeludo. Durante esse processo de limpeza, é importante que o shampoo tenha uma formulação adequada que confira a ele um poder detergente suficientemente capaz de eliminar as sujidades, mas que também respeite o conteúdo graxo dos cabelos e do couro cabeludo.
Assim, um bom shampoo deve apresentar as seguintes características:
bom poder de detergência, a fim de cumprir seu papel de limpeza;
bom poder espumógeno: não existe relação entre espuma e limpeza, mas um bom shampoo deve produzir espuma densa, abundante e duradoura para ser bem aceito pelo consumidor;
viscosidade adequada: a viscosidade de um shampoo tem a função de evitar que o produto escorra pelos dedos durante sua utilização, não estando relacionado com a concentração de detergentes;
não deve ser irritante aos olhos, possuindo pH adequado;
deve ser facilmente enxaguável, não deixando resíduo pegajoso;
deve conferir penteabilidade aos cabelos molhados;
deve conferir maleabilidade, ou seja, os cabelos não devem ficar elétricos, ou encrespados após a lavagem (é o chamado efeito "anti-frizz");
deve fornecer brilho aos cabelos.
Para tanto, o shampoo precisa conter os seguintes componentes:
agentes de limpeza (tensoativo - detergente):
- tensoativo primário: tensoativo principal, maior responsável pela limpeza dos cabelos;
- tensoativo secundário: aquele que sozinho não tem bom poder de limpeza, mas é importante na formulação por garantir estabilização da espuma, viscosidade e suavidade.
agente perolizante
espessantes.
conservantes, para evitar contaminação;
composição aromática, para perfumar os cabelos, dando sensação de limpeza e bem estar;
agentes condicionantes;
aditivos, para tratar o cabelos.
AGENTES DE LIMPEZA
A água, sozinha, não lava eficientemente. Para uma boa limpeza, é preciso que ela seja misturada com detergentes.
São vários os detergentes utilizados no preparo de shampoos, os quais visam os seguintes objetivos: detergência, sobreengosduramento, espessamento e produção de espuma.
O detergente mais conhecido é o "sabão", que foi o primeiro a ser inventado.
O sabão é produzido basicamente pelo aquecimento de gorduras e óleos com um alcali, normalmente soda cáustica.
Em água branda produzem espuma abundante e deixam os cabelos condicionados, maleáveis e brilhantes. Porém se a água for dura, formam-se sais insolúveis de cálcio e magnésio, que se depositam nos fios, deixando-os opacos. Além disso, sabões feitos por esse processo, apresentam pH alcalino, que é incompatível com o pH do couro cabeludo e dos cabelos, que é em torno de 5,5. O uso cosntante desses produtos podem levar ao ressecamento dos cabelos e do couro cabeludo.
Entre 1910 - 1920, com o aumento da população da Europa e Estados Unidos, os óleos e gorduras foram progressivamente destinados ao consumo alimentar, o que se agravou durante a segunda guerra mundial. Assim, pesquisas para o desenvolvimento de detergentes sintéticos foram estimuladas e aceleradas, sendo que após os anos 50 surge o primeiro detergente sintético: ododecil benzeno sulfonato de sódio. Esse detergente tem efeito irritante e provoca ressecamento dos cabelos e couro cabeludo, não sendo mais utilizados em cosméticos.
Atualmente, os detergentes utilizados em cosméticos pertencem as seguintes classes:
1. Alquilsulfatos
Exemplo: lauril sulfato de sódio (mais comum), lauril sulfato de amônio, lauril sulfato de monoetanolamina, lauril sulfato de trietanolamina.
Em alta concentração são irritantes, mas podem ser usados sem maiores problemas quando apropriadamente formulados.
Apresenta a desvantagem de ter sua solubilidade reduzida a uma temperatura em torno de 15°C. Assim, em regiões onde a temperatura é mais amena, o shampoo turva.
2. Alquiletersulfatos
Nessa classe se encontra o famoso lauril éter sulfato de sódio.
Apresentam maior solubilidade e menor irritabilidade, porém seu poder espumógeno é menor que o anterior. Possuem boa viscosidade, produzindo shampoos que necessitam de baixa concentração de eletrólitos (sal).
Sua concentração de uso é de 15 - 35%.
3. Sulfosuccinatos
Exemplo: lauril éter sulfosuccinato de sódio.
Não produz tanta espuma quanto o lauril éter sulfato de sódio, mas apresentam baixo potencial de irritação aos olhos e pele, dando origem a shampoos suaves, por isso são muito utilizados em shampoos infantis.
Oferecem relativa substantividade aos cabelos, apresentando com isso certo poder condicionador, deixando os cabelos leves e sedosos.
Possuem viscosidade limitada, por isso os shampoos produzidos com esse detergente precisam de quantidades maiores de eletrólitos para espessar.
Sua concentração de uso é de 15 - 35%.
4. Sarcossinatos
Exemplo: lauril sarcossinato de sódio.
São muito utilizados em shampoo com apelos "sem sulfatos".
São suaves, bons agentes de limpeza e condicionamento, apresentando baixa irritabilidade a pele e olhos. São biodegradáveis e de origem natural.
Apresentam a desvantagem de serem caros e de formarem precipitados em água dura, o que interfere no seu poder limpeza.
São difíceis de espessar, necessitando de componentes especiais para dar viscosidade adequada ao shampoo.
Concentração de uso: 15 - 35%.
5. Isetionatos
Exemplo: isetionato de sódio.
Assim como os sarcossinatos, são muito utilizados em shampoo com apelos "sem sulfatos".
São tensoativos sofisticados que apresentam poder espumógeno excelente , semelhante aos sabões.
São pouco irritantes, insensíveis a água dura. São encontrados na forma de pó, ou escamas e apresentam o inconveniente de serem difíceis de trabalhar, pois são pouco solúveis a temperatura ambiente, necessitando de aquecimento para solubilização.
Concentração de uso: 10 - 15%
6. Metiltauratos
Exemplo: Oleil Metil Taurato de Sódio
Também são utilizados em shampoo com apelo "sem sulfatos".
Possuem alto poder de formação de espuma, são estáveis em uma ampla faixa de pH (Sulfatos são instáveis em meio ácido) e ideais para produtos apresentados em fórmulas transparentes.
8. Alquilpoliglicosídeos
São sintetizados pela reação da glicose do milho com alcoóis graxos obtidos do óleo de coco, por isso são considerados detergentes de origem natural.
Existe no mercado dois alquilpoliglicosídeos: o decilpoliglicosídeo e o laurilpoliglicosídeo.
Decilpoliglicosídeo
Pode ser considerado um tensoativo primário em shampoos com apelo natural.
Detergente suave que apresenta a qualidade de espuma cremosa, mas apresenta baixa viscosidade.
Concentração de uso: em torno de 4%.
Laurilpoliglicosídeo
Pode ser considerado um tensoativo secundário em shampoos com apelo natural.
Apresenta excelente suavidade a pele, cabelos e baixa irritabilidade ocular.
Tem ação espessante e estabilizador de espuma.
O objetivo de sua inclusão na formulação é substituir parte da amida 90. Não é possível substituir completamente, por não possuir ação solubilizante e de sobreengorduramento, que a amida 90 possui.
Concentração de uso: em torno de 5%.
9. Anfóteros
Exemplo: cocoamidopropilbetaína, cocoamphoacetate de Sódio.
São considerados tensoativos secundários.
Apresentam grande suavidade e baixa irritabilidade ocular.
Oferecem suavidade e condicionamento aos cabelos facilitando o pentear.
São eficazes estabilizadores de espuma e quando combinados com outros detergentes conferem viscosidade ao produto resultante, mas em altas concentrações deixam o "cabelo pesado". Por isso, apresentam um limite de uso: 7,5%.
10. Alcanolamidas do ácido graxo de coco
Exemplo: dietanolamina do ácido graxo de coco, também conhecido como amida 90, ou amida 80.
São considerados tensoativos secundários.
São pouco espumógenos e pouco detergentes.
Tem função solubilizante, de aumentar a viscosidade do shampoo, estabilizar a espuma e principalmente de sobreengorduramento, ou seja, de devolver oleosidade ao cabelo para que ele não resseque após a lavagem.
Concentração de uso: 2 - 6%.
AGENTES PEROLIZANTES
Opcionalmente, pode-se preparar shampoos com aspecto leitoso, ou nacarado. Shampoos com essa aparência passam a impressão de serem mais hidratante, por parecerem cremosos. Esse efeito é obtido com a incorporação de alcoóis graxos como por exemplo:
monoestearato de glicerila: brilho perolizado pouco intenso;
monoestearato de etilenoglicol: brilho perolado mais intenso;
diestearato de etilenoglicol: brilho perolado com maior opacidade.
Todas essas substâncias devem ser fundidas e dispersadas a quente e com o resfriamento elas se emulsionam e se cristalizam. esses cristais refletem a luz, dando efeito nacarado.
A concentração de uso do agente opacificante deve ser baixas (menos de 1%), para não desestabilizar o produto final e diminuir o poder de espuma.
Existe no mercado um produto chamado de "base perolizante", que nada mais é que um álcool graxo fundido e diluído, o qual pode ser acrescentado na formulação a frio. A concentração de uso desse produto é de 3 a 5%.
CONSERVANTES
O shampoo não é um sistema sujeito a altos níveis de contaminação. Mas considerando a quantidade de água presente na formulação é prudente a utilização de algum conservante.
Hoje os consumidores têm bastante receio a presença desses componentes na formulação, mas hoje existe diversas opções de conservantes seguros e com apelo natural e orgânico no mercado. Então, não vale a pena deixar a formulação desprotegida.
ESPESSANTES
O aumento da viscosidade de um shampoo é conseguido de duas maneiras:
adição de eletrólitos (cloreto de sódio - sal) à formulação final, modificando-se os parâmetros reológicos do sistema tensoativo-água.
adição de espessantes hidrofílicos: matéria prima natural ou sintética capaz de entumecer em presença de água dando viscosidade ao meio.
O uso de sal nas formulações de shampoo caiu em desuso, pois criou-se a crença que o mesmo resseca os cabelos, o que não é verdade. Na realidade, o que acontece é fórmulas mais complexas e balanceadas naturalmente já apresentam viscosidade adequada, não precisando da adição de sal, que só é acrescentado em fórmulas simples, sem muitos agentes condicionantes e suavizantes. Então, o problema está na fórmula do shampoo como um todo e não somente na presença do sal.
A adição de sal também não é muito eficiente em shampoos sem sulfatos. A viscosidade adequada, no caso desses shampoos, é conseguida com o uso de espessantes hidrofílicos, como pro exemplo, polímeros acrílicos e goma xantana (no caso de shampoos com apelo natural).
Alguns agentes condicionantes também colaboram para o aumento da viscosidade, como é o caso do poliquartenium 10 e a goma guar.
Além desses componentes descritos, um bom shampoo apresenta também agentes condicionantes para dar mais suavidade ao produto e aditivos de ações especificas, como é o caso de shampoos anti queda, anti caspa. Mais informações sobre esses componentes poderão ser encontradas na próxima postagem.
Comments